A Câmara Municipal de Fortaleza realizou Sessão Solene, na última quinta-feira (05), para a entrega da Medalha Lauro Maia à Associação Cultural Solidariedade e Arte (Solar) e aos Artistas Musicais Marlui Miranda e Zé Vicente. Eles foram escolhidos em 22 de outubro, durante reunião da Comissão de Escolha para a Outorga da Comenda, por iniciativa do vereador Ronivaldo, conforme determina a resolução 1.196 de 6 de outubro de 1993.
A sessão foi presidida pelo vereador Ronivaldo (PT), no ato representando o presidente da Câmara, vereador Antônio Henrique (PDT). A mesa de honra foi composta pelas seguintes personalidades: Mona Gadelha, pelo Porto Iracema; Cida Olímpio, pelo Centro Cultural Banco do Brasil; Antônio Pinto de Almeida, Facilitador Escola de Catequese; Ritelsa, da Tapera das Artes; Cacique Renato Tiguara de Crateús; Padre Carlos Alberto, missionário Redentorista; Norma Paula Moreira, diretora de articulação cultural, representando o secretário de Cultura, Gilvan Paiva; o presidente do Instituto de Planejamento de Fortaleza, Eudoro Santana e os homenageados da noite, Marlui Miranda, Zé Vicente e a Pingo de Fortaleza, representando a Associação Cultural Solidariedade e Arte (Solar).
O vereador Ronivaldo iniciou a solenidade convidando a cantora Eliane Brasileiro para se pronunciar e iniciar as homenagens, “não há forma melhor de homenagear a todos lembrando a presença dos índios em nossa cultura,
Eliane declamou o poema “Por que Cantamos” de Mário Benedetti. “Meus agradecimentos a Zé Vicente, Pingo e Malui, três vidas unidas pela arte saudável, que trilham o caminho da esperança, da beleza, da igualdade dos povos. Como brilhar juntos é nossa bandeira, convido o amigo músico professor da Universidade Federal, Babi Fonteles, pois aprendi com ele a cantar a música do povo Tremembé e convido a todos a cantar nessa ciranda de Luz”, disse.
Em seguida, Babi Fonteles disse que a homenagem era necessária reconhecer o trabalho dos artistas. “Quero começar com Canto de Chão, gravado por mim e Zé Vicente”. Em seguida Pingo de Fortaleza cantou Solencanto. Com Eliane Brasileiro cantou Noite Azul, com a participação da bateria e dos brincantes do Maracatu Solar.
Em sua saudação aos presentes, o vereador Ronivaldo fez um histórico sobre as escolhas. “Inspirados nos pássaros que lembram nossos índios, numa belíssima manhã de sábado tivemos uma sugestão iluminada para Marlui Miranda, que canta na língua nativa. Em momentos como esse, a gente se depara com uma dívida histórica. Não vamos desistir para continuar cobrando essa dívida. Marlui resolveu não se render ao Mercado e decidiu cantar os índios. Esse reconhecimento é pequeno diante de sua contribuição”, enfatizou.
“Zé Vicente está presente desde quando iniciei na politica. Fui inspirado por ele. Como presidente de uma entidade de estudantes em 1981 fui a Crateús e o conheci. A partir de suas letras a luta se torna real quando as pessoas se organizam. Elas são alimentadas pela música que falam de coisas reais. Já na categoria de instituição, a Solar recebe a homenagem para coroar um trabalho continuado de formação musical. É bom ver jovens no quintal da associação no Benfica, percebendo a partir do Maracatu a música. Minhas palavras é só para dizer que as escolhas seguiram um rito e essa homenagem não é minha mas de todos os 43 vereadores,” concluiu.
Após a entrega da Medalha Lauro Maia e o certificado da comenda aos homenageados, falou inicialmente Pingo do Fortaleza que destacou o início da SOLAR. “Iniciamos com uma sala e hoje crescemos com vários pequenos projetos e nos consolidamos como Ponto de Cultura e logo depois criamos os programas continuados. Criamos o mais exitoso que é o Maracatu Solar, com 250 participantes. Temos a Orquestra e desenvolvemos vários eventos, como o VI Festival Instrumental; oficinas; Vila Sonora, em Aquiraz; Tambores Ancestrais; Brincar de Maracatu; Registros documentários; Exposição chamada Patrimônio, com 130 telas”.
Em seguida falou o segundo homenageado da noite, Zé Vicente, “é por amor a vida que nós cantamos e choramos, quem tem que pedir desculpa é que não chora. Esse amor que nos conduz. Temos até um presidente chorão. Nessa noite agente fica olhando a história do seu Joaquim lá em Crateús que disse que foi perguntar ao Padre Cicero se casamento civil era casamento e viu o padim só olhando para a cara do povo. É assim que me sinto, queria ficar olhando só para os rostos de vocês, pela cumplicidade que temos”, pontuou.
“Essa causa nossa tem tudo a ver com a terra, de cuidar dos humanos e orientais. Tem muita gente tocando fogo e transformando a vida em cinzas, Nossas armas são esses tambores, nossos violões, nosso canto, e que seja um canto de amor. Ronivaldo você é um vereador que abraça e beija agente, isso cria uma liga. Eu fiquei tão surpreso com essa tripla homenagem, porque a arte nos une”, asseverou.
Encerrando os pronunciamentos falou a cantora Marlui Miranda: “muito obrigada a esta Casa, muito obrigada por celebrar hoje na presença de todos e de todas. Quero deixar meu imenso carinho, por proporcionarem essa música maravilhosa que está em nossa genética. Não moro aqui, mas o ser cearense está em todo lugar. Quero agradecer muitíssimo ao vereador por sua proposição de trazer a música para esta Casa. É um espírito da música que alimenta, tira o estresse, traz alegria, isso que deve permear todo trabalho da política”, frisou.
Marlui afirmou que está há 40 anos de estrada na música indígena do Brasil. “Nossa agenda indígena não pode estar destacada da luta dos povos quilombolas. Temos que unir nossas forças. E com as questões que não tem respostas, com coisas que nos angustiam. Recebi um livro Orfeu da Conceição, de Vinícius de Morais, que traz uma metáfora de Marielle, ‘mataram Orfeu o generoso, mataram Orfeu o forte, mas para matar Orfeu não basta a morte, só não morre no mundo a voz de Orfeu’,” finalizou.