
Por trás de cada encontro semanal, passeio cultural ou atividade física promovida pelo
Trabalho Social com Pessoas Idosas (TSPI) do Sesc Ceará, estão histórias de vidas que se
reinventam, reencontram sentidos e ganham novos horizontes. Em um Ceará onde o número
de pessoas idosas cresce aceleradamente, iniciativas como o TSPI se tornam essenciais para
garantir que envelhecer não seja apenas acumular anos, mas multiplicar experiências.
Para Henrique Javi, diretor Regional do Sesc Ceará, o TSPI materializa a missão da Instituição.
“Levando bemestar e qualidade de vida às pessoas em todas as suas fases, o trabalho social
com pessoas idosas garante a
efetividade desse propósito”.
Atendendo hoje mais de 2 mil pessoas idosas no estado, o TSPI surgiu para responder à
demanda por espaços sociais destinados à velhice, adotando a gerontologia como base técnica
e consolidando o Sesc como referência no desenvolvimento de atividades específicas para esse
público. As ações estão alinhadas aos princípios do envelhecimento ativo e saudável, com
ênfase em participação social, autonomia, aprendizagem contínua e qualidade de vida. Como
resume Thaís Castro, supervisora de Assistência do Sesc Fortaleza: “Velhice não é sinônimo de
decrepitude, mas oportunidade de viver mais, com maior repertório, com maior experiência e
possibilidades reais de realização, aprendizagem e saúde”.
Quem redescobriu novos significados para a vida após a aposentadoria foi Sávio de Paiva, 64
anos, carioca residente em Fortaleza há quase três décadas. Após uma longa carreira nas áreas
financeira e jurídica, Sávio se aposentou em 2019 e encontrou no TSPI um caminho para
ressignificar seu tempo livre por meio da Oficina de Criação Literária. “Eu sempre tive
afinidade com a escrita técnica devido às minhas profissões, mas faltavame a escrita criativa.
Hoje, me sinto estimulado e mais confiante”, relata.
Participando da oficina desde fevereiro de 2024, Sávio destaca o impacto da atividade no
cotidiano. “A escrita ajudou a melhorar minha criatividade, a organizar ideias e sentimentos.
Foi surpreendente ter meus textos publicados no livro comemorativo dos 30 anos da Oficina”,
diz. Além disso, ele ressalta a importância das conexões criadas nas atividades do TSPI: “Aqui,
conhecemos histórias diversas, mas com um desejo comum: continuar crescendo, aprendendo
e contribuindo”.
Estímulo e fortalecimento
A criação literária e a terapia ocupacional com ativação cerebral ilustram como o TSPI integra
estímulo cognitivo, expressão criativa e fortalecimento emocional. Victoria Vasconcelos,
professora da oficina de Criação Literária, resume: “muitos participantes retomam um desejo
antigo e passam a se reconhecer como autores. Trabalhamos escuta, fala e escrita. Cada
produção é única, mesmo que o tema seja o mesmo. No fim, eles se reconhecem como
autores e muitos publicam seus primeiros textos em livros coletivos”.
Na Terapia Ocupacional com Ativação Cerebral, o foco é treinar habilidades como atenção,
memória, percepção e funções executivas. A terapeuta ocupacional Robevania Teixeira
explica: “É uma ferramenta eficaz para fortalecer as redes neurais, prevenir ou retardar
demências e reativar habilidades ‘esquecidas’. Muitos retomam o hábito da leitura e da escrita
— e eles amam as tarefas”. As aulas ocorrem duas vezes por semana e ajudam a combater o
isolamento, incentivando a socialização e a autonomia.
Luciene Moura Fernandes, 65 anos, participante ativa de oficinas culturais e da terapia
ocupacional com ativação cerebral, sintetiza o efeito do programa em sua rotina: “O Sesc me
deu um sentido novo, amizades e atividades com propósito. Depois da aposentadoria, eu
temia o vazio. Aqui, encontrei preenchimento”.
Durante o período de isolamento social, o TSPI adaptou rapidamente suas ações para o
ambiente digital, com tutoriais, encontros virtuais e produção de conteúdos remotos,
ampliando o alcance e deixando um legado híbrido que permanece nas práticas do setor.
Protagonismo social
Outro eixo do TSPI é o incentivo à cidadania ativa. Além das oficinas, projetos fomentam o
protagonismo social da pessoa idosa, como rodas de conversa, ações intergeracionais e a
participação em conferências. Sávio, por exemplo, foi eleito delegado em uma conferência
municipal sobre os direitos da pessoa idosa. “Foi emocionante representar o Sesc e perceber
que nossa voz pode contribuir para políticas públicas”, afirma.
Henrique Javi destaca que o diferencial do programa está na integração entre as áreas do Sesc:
“Saúde, lazer, cultura e educação se articulam para manter a pessoa idosa ativa física e
mentalmente. No campo educacional, cresce a procura por formações em tecnologia — uso de
redes sociais e aplicativos — para que eles se mantenham atualizados e conectados”.
Ele também lembra que a preocupação com o envelhecimento digno acompanha o Sesc desde
sua criação: “Desde a década de 1940, há o compromisso de garantir que, ao se aposentar, o
trabalhador do comércio tenha mecanismos para se manter saudável, estimulado e orientado.
Essa dinâmica só se fortaleceu com o tempo. Hoje, além do usufruto com qualidade,
estimulamos que a pessoa idosa permaneça atuante, inclusive em atividades produtivas,
empreendedoras ou voluntárias”.
Mais do que um conjunto de atividades, o TSPI do Sesc Ceará reafirma uma visão de sociedade
que valoriza cada etapa da vida. Como sintetiza Henrique Javi, é a integração entre cuidado,
cultura, educação e lazer que “eleva a qualidade de vida da pessoa idosa”, garantindo
bemestar, convívio e saúde mental — pilares de um envelhecer com sentido.
Trabalho Social com Idosos
Oficinas e atividades
9 projetos e 30 ações nas áreas de inclusão digital, estímulo cognitivo, práticas corporais,
manifestações artísticas e culturais, projetos de vida, memória social, intergeracionalidade e
voluntariado.
Vivências externas
Cerca de 30 por ano.
Equipe técnica
3 assistentes sociais, 1 terapeuta ocupacional, 1 professora de literatura, 1 professor de
informática, 1 regente, 1 pedagoga, 1 socióloga, 1 supervisora, 1 assistente administrativa, 2
estagiárias de serviço social e 1 jovem aprendiz.
Voluntários ativos
74 participantes em atividades como intergeracionalidade e cidadania ativa.
Produções culturais
Livros, cartilhas informativas, podcasts, e-books, documentários e materiais educativos
diversos produzidos ao longo da trajetória do programa.
Impacto digital na pandemia
Aproximadamente 5 mil pessoas atingidas pelas atividades remotas realizadas via WhatsApp,
Google Meet e YouTube.

