
A inteligência artificial (IA) já deixou de ser tendência e se tornou uma exigência para a competitividade industrial. Foi com essa mensagem que o advogado e especialista em tecnologia Ronaldo Lemos conduziu a palestra “Inteligência Artificial: Aplicabilidade e Impactos para a Indústria”. Realizada na noite desta quinta-feira (31/07), na sede da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), a iniciativa reuniu empresários, dirigentes sindicais e representantes de diversas áreas da indústria cearense em uma noite de imersão prática, reflexão crítica e troca de experiências.
O evento marcou ainda o lançamento oficial do plano de cultura de IA do Sistema FIEC, voltado à qualificação de equipes, definição de normas e incorporação responsável de soluções tecnológicas. A palestra contou com apoio do IEL, SESI e SENAI Ceará, além do SEBRAE/CE, e integra uma estratégia mais ampla, liderada pelo presidente da FIEC, Ricardo Cavalcante, para impulsionar a transformação digital do setor.
Representando Cavalcante, o primeiro vice-presidente da FIEC, Carlos Prado, foi responsável pela abertura do evento. Em sua fala, destacou o caráter prático da iniciativa: “O Ronaldo Lemos vai fazer aquilo que todos nós estamos buscando. A gente ouve falar muito de inteligência artificial, vemos muita notícia, mas ele vem nos apresentar o que é IA na prática, para que se torne mais assimilável para todos nós, principalmente para aqueles que ainda não estão utilizando”.
À frente da transformação digital no Sistema FIEC, a superintendente do IEL Ceará, Dana Nunes, reforçou que a jornada institucional rumo à IA vem sendo construída com base sólida: mapeamento de processos, engajamento das equipes e decisões orientadas pela cultura organizacional, e não por modismos tecnológicos. “Adquirir tecnologia por adquirir pode ser um tiro no pé. Primeiro, é preciso estabelecer uma cultura, ter liderança comprometida e só então partir para a tecnologia”, pontuou.
Dana também antecipou os próximos passos do Sistema: o investimento em hiperautomação – combinação entre IA e automação tradicional -, que exige governança, segurança e envolvimento humano. “Aplicar IA não é apenas disponibilizar uma ferramenta. É compreender como usá-la de forma responsável, com as pessoas no centro da transformação”, completou.
A presença de lideranças empresariais e sindicais também reforçou o engajamento do setor industrial com a agenda da inovação. Estiveram presentes o ex-presidente da FIEC e presidente do Sindtrigo, Roberto Macêdo; o CEO do Grupo J. Macêdo, Amarílio Macêdo; além de diretores, conselheiros e presidentes de sindicatos industriais como Carlos Rubens Alencar, diretor financeiro adjunto da FIEC e presidente do Simagran; José Antunes Mota, diretor da FIEC e presidente do Sindilacticínios; Benildo Aguiar e André Siqueira, diretores da FIEC; Marcos Montenegro, conselheiro fiscal da FIEC e presidente do Sindialgodão; e Pedro Alfredo Neto e Roberto Ramos, respectivamente conselheiro fiscal e conselheiro fiscal suplente da FIEC.
Quatro pilares da inovação: a visão de Ronaldo Lemos
Dividida em quatro blocos, a palestra de Ronaldo Lemos abordou desde os fundamentos da IA até seus impactos regulatórios, passando por experiências internacionais e aplicações reais nas rotinas industriais. Ao citar a China como exemplo de liderança tecnológica global, Lemos destacou os pilares que sustentam essa transformação: inteligência artificial, computação em nuvem, internet das coisas e big data. “Esses são os quatro pilares do avanço chinês. Analisar como o Ceará e o Brasil estão evoluindo nessas áreas é um bom diagnóstico do nosso estágio de transformação digital”, observou.
Para ele, além da tecnologia, o capital humano e o crescimento no número de patentes também são indicadores essenciais da maturidade digital de um país.
Entre os exemplos práticos apresentados, destacam-se a engenharia generativa – quando a própria IA é usada para projetar novos produtos- e a aplicação de algoritmos na otimização de processos industriais. “Quem quer ser inovador de verdade precisa de indústria. Ela é a base da inovação. O Brasil tem uma base industrial forte, e se souber aplicar essa camada fina de tecnologia e informação, o salto em produtividade e valor agregado pode ser enorme”, avaliou.
Regulação e timing: os riscos de se mover devagar
Ao final de sua fala, o especialista criticou o Projeto de Lei (PL) 2338, que trata da regulação da IA no Brasil, inspirado no modelo europeu. Para ele, a proposta atual pode engessar a inovação industrial ao impor camadas excessivas de burocracia.
“Esse PL classifica os usos da IA por níveis de risco e exige mais licenças à medida que o risco aumenta. Na minha visão, ele pode engessar o uso da inteligência artificial no setor produtivo”, alertou. Como contraponto, mencionou sua colaboração com o governo de Goiás na elaboração de uma lei estadual mais enxuta e propositiva.
“Ficar parado não é uma opção. O maior erro que podemos cometer agora é não agir. Quem demora perde mercado, perde oportunidades e pode ver seus produtos se tornarem obsoletos. Não adianta estar certo na hora errada. Também não adianta chegar atrasado. O momento de agir é agora”, afirmou.
O encontro consolida mais um capítulo da trajetória da FIEC na promoção de uma indústria mais digital, moderna e conectada com as necessidades da sociedade. Como reforçou Dana Nunes: “A transformação digital não é só sobre tecnologia, mas sobre cultura, pessoas e entrega de valor”. É nesse caminho, emendou, que o Sistema FIEC segue mobilizando conhecimento, parcerias e estratégias para garantir que a indústria cearense esteja preparada para os desafios e as oportunidades de um novo tempo.